Twin Peaks Faz 20 Anos (Atualizado em 11/04/2010)


Desde que as séries surgiram no final dos anos 40 na televisão, elas vêm se desenvolvendo dentro de regras e fórmulas, nas quais são estabelecidos tipos de temas abordados, de desenvolvimento narrativo, de estética e, principalmente, de moral e de comportamento cívico. Entre os anos 40 e os anos 70 a televisão trouxe algumas produções no formato seriado que conseguiram, algumas timidamente, romper parte ou todos esses padrões.

Nos anos 50, "I Love Lucy", na comédia, "Alfred Hichtcock Apresenta" e "Cidade Nua", no drama, e "Além da Imaginação" na ficção científica, foram as precursoras dos rompimentos desses moldes hermeticamente fechados. Na década de 80, cresceu o número de séries que traziam em seu elenco fixo personagens com um certo grau de ambiguidade e comportamentos, que poderiam levar ao questionamento de sua moral, resultado, é claro, das produções dos anos 60 e 70, em especial as topical sitcoms. Entre os mais conhecidos dos anos 80 está "O Homem da Máfia", série que trouxe um representante da lei vivendo no submundo do crime, o que o leva, muitas vezes, a se questionar que caminho seguir.


Então, em 8 de abril de 1990 estreou na TV americana "Twin Peaks", série que marcou a ruptura entre o ontem e o hoje no universo dos seriados. Criada por David Lynch e Mark Frost, a série trouxe para o formato uma história complexa, intrigante e muitas vezes desconcertante para um público acostumado à divisão entre o bem e o mal. "Twin Peaks" era uma novela noturna, gênero que cresceu nos anos 80, embalada em uma estética cinematográfica, que, com isso, estabeleceu um novo padrão no fazer seriado. A produção deu aos roteiristas de séries de TV 'a carta de alforria' para se libertarem de fórmulas.

Muitos poderão argumentar que "Twin Peaks" foi o resultado das produções acumuladas nas décadas anteriores, o que é absolutamente verdade. No entanto, ela se tornou revolucionária a partir do momento que se livrou de amarras morais estabelecidas pela televisão. A liberdade criativa que "Twin Peaks" trouxe para os seriados é explorada até hoje. Nada do que vemos atualmente seria possível sem ela. Qualquer produção hoje considerada revolucionária, é, na verdade, uma evolução da verdadeira reviravolta narrativa que foi "Twin Peaks". Nem mesmo a popular "Lost" consegue estabelecer o mesmo grau de rompimento com o passado, de transformação de formato e de revolução televisiva que foi "Twin Peaks" para os seriados americanos.

Cooper e Truman

A produção

Desde 1986, quando David Lynch lançou o filme "Blue Velvet" que a Warner Brothers tinha interesse em desenvolver um projeto de série com o diretor e roteirista. Mas, Lynch não se interessava pelo formato. Ao ser contratado pelo estúdio, ele logo se envolveu no projeto de um filme sobre a vida de Marilyn Monroe. Pouco depois o projeto foi engavetado. Tetando mantê-lo, a Warner o apresentou a Mark Frost, um dos roteiristas de "Chumbo Grosso/Hill Stree Blues", com quem Lynch trabalhou no desenvolvimento de roteiro de uma nova comédia com Steve Martin e Martin Short. Novamente o projeto foi engavetado. Mas, nesse meio tempo, Lynch e Frost se tornaram amigos.

Então, Tony Krantz, agente de ambos pela Creative Agency, sugeriu que os dois desenvolvessem um projeto de uma série de TV, nem que fosse para passarem o tempo, já que os filmes que tentaram desenvolver não tinham dado certo. Foi então que surgiu "The Lamurians", um projeto de série que girava em torno de uma equipe de detetives tentando eliminar a infiltração de alienígenas na Terra. O projeto fazia parte do contrato que a dupla tinha assinado com a NBC para desenvolver uma nova série. No entanto, o canal não gostou da proposta e decidiu não produzir o piloto. Tendo três rejeições nas mãos (dois filmes e uma série), a dupla, já frustrada, começou a trocar ideias sobre o passado, visto que ambos tinham crescido em cidades do interior.

Andy e Lucy

Assim, Lynch e Frost começaram a criar "Twin Peaks", quando, juntos, desenharam o mapa de uma cidade do interior e seus principais pontos de referência. A partir da cidade, surgiram os moradores, influenciados por lembranças pessoais, além dos filmes "Blue Velvet" e "Caldeira do Diabo/Peyton Place" (produção com base em um livro, que também foi transformado em novela nos anos 60). Depois que criaram o mapa da cidade e definiram os principais moradores, surgiu a ideia de 'sujar' o cotidiano dessa aparentemente pacata cidade, colocando um corpo de uma jovem boiando no rio. Assim que fizeram isso, os dois perceberam que tinham um projeto em mãos.

Ele foi apresentado à ABC em 1988, durante a greve dos roteiristas e em 10 minutos de exposição, o canal comprou a ideia e encomendou a produção de um roteiro para o piloto. Inicialmente batizado de "Northwest Passage", o piloto da série levava o público ao interior dos EUA no qual, camada por camada, os personagens começam a ser despidos. Orçado em 1.8 milhões de dólares, o piloto foi produzido e apresentado à emissora.

Apostando na proposta, mas não acreditando que o público a recebesse de braços abertos, a emissora encomendou a produção de mais 7 episódios e programou a estreia da série para a mideseason de 1990. Para garantir um retorno do investimento e explorar o nome de Lynch no mercado internacional, a emissora encomendou a produção de uma cena final, na qual seria revelada a identidade do assassino de Laura. Dessa forma, caso a série não fosse renovada para uma segunda temporada, o canal poderia lançar os 8 episódios em formato minissérie no exterior.

Shelly e Leo

A intenção de Lynch e Frost não era a de dar um nome ou um rosto ao assassino. Na concepção da série, sua morte era um desculpa, uma porta de entrada para dar início a uma história que tinha como objetivo explorar as camadas que compõem um ser humano e a sociedade em que está inserido. Esse era o verdadeiro enredo de "Twin Peaks" e para essa história, não existe um final. Mas a visão limitada do mercado, da emissora e do público, fez com que uma resposta explicativa e definitiva fosse produzida.

A primeira temporada de 8 episódios encerra com um cliffhanger. A segunda temporada tem início do ponto em que a primeira terminou, sendo que, atendendo as exigências da emissora, o assassino é revelado no sétimo episódio de uma temporada de 22. O que fazer com o restante da história?

Dr. Jacoby e Bobby

A partir da revelação de quem teria matado Laura Palmer, o público médio, que só estava assistindo a série para descobrir o assassino, trocou de canal. Sua curiosidade já estava satisfeita e as nuances de personagens ou a simbologia da série não lhes interessava. A partir daí, a história desandou. Sem o apoio do mistério que cercava a morte de Laura, a série perdeu seu ponto de referência.

O mistério em torno de Laura era a base realista que alinhavava o imaginário e o surrealismo dos personagens e da cidade. Sem ele, a história ficou solta. A tentativa de amarrá-la em uma trama na qual temos Cooper e o Xerife Truman tentando desbaratar o tráfico de drogas e prostituição, não conseguiu ser forte o suficiente para dominar a complexidade dos personagens e seus comportamentos bizarros.

Para complicar ainda mais a situação, David Lynch e Mark Frost dedicavam-se a outros projetos, tendo pouco tempo para supervisionar os roteiros da segunda parte da segunda temporada da série. Perdendo ainda mais a audiência, a série foi cancelada ao final da segunda temporada. Ainda assim, foi produzido um filme que narrava "Os Últimos Dias de Laura Palmer/ Laura Palmer: Fire Walk With Me". Lançado no mercado nacional e internacional, o filme foi um fracasso nas bilheterias americanas, mas recebido de braços abertos pelo público europeu e asiático.

A Mulher do Tronco e Catherine

A história, uma prequel, não contou com as presenças de Sherilyn Feen, cujo personagem, Audrey, não aparece no filme; nem tão pouco com a atriz Lara Flynn Boyle, que teve seu personagem, Donna, interpretado por Moira Kelly, de "One Tree Hill". Tanto Sherilyn quanto Lara estavam decepcionadas com o declínio de "Twin Peaks" e o abandono de Lynch e Frost.

Mesmo o ator Kyle McLachlan, intérprete de Cooper, precisou ser persuadido para voltar a interpretar o agente no filme. O ator aceitou, mas limitou sua presença na história. Desta forma, o filme inicia com as investigações do assassinato de Teresa Banks, a última jovem morta antes de Laura. O agente Desmond (Chris Isaak), é designado para realizar as investigações, com a assistência de Sam (Kiefer Sutherland). Quando Demsond desaparece, Cooper é encarregado de descobrir seu paradeiro, mas sem sucesso. Um ano depois, a história passa a focar os últimos dias de Laura Palmer, novamente interpretada por Sheryl Lee.

Leland e Joan

A história da série

"Twin Peaks" era uma série desenvolvida a partir da psicologia e do comportamento de seus personagens, os quais definiam a história; e não uma série cuja história definia o tipo de comportamento de seus personagens. Tanto o texto quanto os cenários, as cores, o figurino, a trilha sonora e os movimentos de câmera, tinham como objetivo expor as maldades dos personagens bons em contraste às bondades dos personagens maus, e vice-versa; embalados pela dor da solidão e da perda. Cada episódio, com poucas exceções, representa um dia na vida dos personagens.

Em uma pacata cidade do interior dos EUA, o corpo de uma adolescente é encontrado embalado em plástico boiando no rio. As características de sua morte levam o agente do FBI, Dale Cooper (McLachlan), a assumir a investigação do caso, mantendo uma parceria com o Xerife Truman (Michael Ontkean). Há tempos que Cooper caça um assassino em série e Laura Palmer pode ter sido mais uma de suas vítimas. A partir das investigações da dupla, abre-se para o público diferentes histórias vividas pelos habitantes da cidade, todas, de alguma forma, interligadas às investigações da morte de Laura. 

Audrey

Truman mantém um caso secreto com Josie (Joan Chen), herdeira da principal serraria da cidade. Josie é viúva do irmão de Catherine (Piper Laurie), que não aceita a imigrante chinesa como membro da família. Casada com Pete (Jack Nance), Catherine manipula o marido e o amante, Ben Horne (Richard Beymer), contra Josie, sem perceber, no entanto, que através deles, ela é manipulada pela cunhada.

Além da serraria, a cidade também tem um dos principais hotéis da região, o Great Nothern, onde Cooper fica hospedado. Seu proprietário, Ben Horne (Richard Beymer) é um homem que mantém os negócios acima dos interesses da família, a qual é composta por uma esposa Sylvia (Jan D' Arcy), que vivia de mal humor, uma filha, Audrey (Sherilyn Fenn), que não se conforma com a monotonia da cidade pequena, e um filho, um deficiente mental. Um de seus funcionários é Leland (Ray Wise), pai de Laura (Sheryl Lee), um advogado emocionalmente instável, casado com Sarah (Grace Zabriskie ), uma mulher que, até a morte de Laura, comandava com punho de ferro as vidas dos membros da família.

Nadine e Bob

Laura tinha como melhor amiga a colega de classe Donna (Lara Flynn Boyle), jovem apaixonada por James (James Marshall) que por sua vez era apaixonado por Laura. Mas, esta namorava Bobby (Dana Ashbrook), o encrenqueiro da escola, que mantinha um caso secreto com Shelly (Mädchen Amick), a garçonete da lanchonete mais popular de Twin Peaks. Shelly era casada com Leo (Eric Da Re), um caminhoneiro que pouco se importava com a esposa, a quem dominava através do terror e de atos violentos.

A lanchonete Double R, ponto de encontro de muitos personagens, pertencia à Norma (Peggy Lipton), que mantinha um caso com Big Ed (Everett McGill), tio de James, e casado com Nadine (Wendy Robie), uma das loucas de plantão. Entre os frequentadores da lanchonete estava Margaret, a mulher do tronco (Catherine E. Coulson), assim conhecida por carregar um pedado de madeira como se fosse um bebê. Uma espécie de bruxa, a mulher do tronco costumava 'ver e ouvir' coisas que a levavam a se tornar uma chave importante nas investigações de Cooper.

Laura e Cooper

Apesar da fama de boa moça de Laura, a jovem escondia do público seus verdadeiros sentimentos e opiniões sobre a vida em Twin Peaks, algo que ela costumava compartilhar, de certa forma, com seu psicólogo, o dr Jacoby (Russ Tamblyn), homem obcecado por sua paciente favorita.

Ao longo da história outros personagens foram surgindo formando uma teia complexa de relações e tramas que formaram essa série. Por curiosidade, a série trouxe participações especiais de atores como David Duchovny, como uma gente que gostava de se vestir de mulher, Alicia Witt, como a irmã caçula de Donna; Clarence Williams III, como um agente que substitui Cooper quando ele é suspenso; Billy Zane, como um amigo de Ben que se apaixona pela filha dele, Audrey; e Heather Graham, como a paixão de Cooper; Molly Shannon, como Judy, uma assistente social; e, é claro, David Lynch. 

O gigante

A estética cinematográfica

Quando Alfred Hitchcock foi para a televisão em 1955, nenhum diretor de peso do cinema o seguiu. Ao contrário, a TV fez surgir profissionais que mais tarde se tornariam grandes diretores de cinema. Quando David Lynch chegou em 1990, abriu as portas para que, gradualmente, cineastas renomados imprimissem sua marca nas séries e minisséries televisivas. Ao longo dos anos, a TV a cabo se tornaria reduto principal dessa 'gente de cinema', mas foi "Twin Peaks" que estimulou essa transição.

David Lynch entrou na televisão manipulando seu conteúdo e seus símbolos. Ele não levou a televisão ao cinema como hoje é visto em produções como "A Família Soprano" ou "Mad Men". Mas, ele levou o cinema aos seriados de televisão, atingindo um nível que, até então, não tinha sido feito. Em "Twin Peaks" Lynch explorou a narrativa das novelas, com seus melodramas e personagens, apresentando uma trama policial com visual de filme noir e toques de surrealismo. Em seu conteúdo, ele reciclou a cultura popular americana e suas convenções, reformulando narrativas e fazendo uso do visual kitsch.

James e Truman

A série trabalhava basicamente em dois planos: o do consciente e o do subconsciente, o qual se manifestava na forma de sonhos, visões, dimensões e signos diversos. Tempo e espaço se confundiam, com a presença de personagens dos sonhos aparecendo na vida real e a presença de Cooper em seus sonhos. Ao mesmo tempo, criou-se um terceiro universo, visto em paralelo através da novela "Invitation to Love", assistida por alguns personagens da série. Esta novela fazia uma alegoria na qual temos os mesmos tipos de pessoas que eram apresentados em "Twin Peaks", mas em uma narrativa pura de novela televisiva; enquanto que nós, público real, acompanhávamos os personagens da série, que tinham todos os elementos de uma novela, mas eram embalados em um tratamento cinematográfica. Algo que hoje Pedro Almodóvar faz muito bem.

A história de "Twin Peaks" se apoiava nos contrastes: o fogo dos personagens em relação ao clima gélido; o bem e o mal no comportamento de cada indivíduo; o sonho e a realidade; personagens 'normais' e aqueles típicos do folclore e contos de fadas; e a morte em relação à vida, vistas através da quantidade de animais empalhados e de ambientes de madeira (árvores mortas), em meio ao qual acompanhamos os personagens vivendo suas vidas.

A metáfora mais marcante entre o 'claro e o escuro' com certeza era a existência de uma espécie de céu e de inferno, representados pelo White Lodge e Black Lodge, dois lugares localizados em outra dimensão da qual faziam parte o gigante e Bob, respectivamente. O portal de acesso a eles ficava na floresta, a qual é símbolo do interior do ser humano.

Ronette

Os diálogos de "Twin Peaks" acompanhavam essas nuances, oferecendo uma dualidade entre imagem-fala-expressão facial, fugindo da tendência que muitas séries tinham em explicar didaticamente os sentimentos e opiniões de personagens. Os comentários de Cooper sobre o comportamento humano, a natureza ou a comida, se transformavam em alegorias e pistas importantes nas investigações do agente.

Além disso, a série fez uso das tomadas que exploravam o silêncio, expondo os sentimentos dos personagens e suas feridas. A câmera dava tempo aos atores/personagens de processarem uma informação e de reagir a ela. Logo no piloto temos um movimento de câmera que fugia aos padrões televisivos, raramente rompidos ao longo de quatro décadas. A mãe de Laura toma conhecimento da perda da filha quando está ao telefone falando com o marido. Ao invés da câmera mostrar o rosto da mãe, depois do marido e depois da mãe, ela, a câmera, acompanha o fio do telefone, descendo lentamente, enquanto o choro e o desespero da mãe, ao som da trilha sonora composta por Angelo Badalamenti, vai se aprofundando.

A própria trilha mencionada é um personagem à parte, explorando a dor e a solidão dos moradores de "Twin Peaks". A mesma abordagem ocorre com as tomadas da cidade vazia em contraste à natureza, ou as cores dos ambientes e figurinos, as quais tendiam para o vermelho e o azul simbolizando paixão, dor, tristeza e solidão.

O anão e Cooper

Os personagens e alguns de seus símbolos

A série 'violentou' o sonho americano, que tem como base os aspectos religiosos e políticos de uma sociedade que vem se formando desde sua independência. Através dos comportamentos de seus personagens foram explorados temáticas relacionadas a fé, religião, ciência, política, sociedade e família que traziam à tona suas ambiguidades e suas verdadeiras intenções. Não farei aqui uma análise de cada personagem, já que esta é uma postagem e não uma monografia. Mas vale a pena ressaltar, através de dois deles, algumas questões que foram trazidas à tona e tabus que foram rompidos, seja através da trama explícita, seja através da interpretação de alguns de seus símbolos.

A personagem feminina é tradicionalmente apresentada em duas versões: a da prostituta que precisa buscar uma redenção para ser aceita pela sociedade ou a da virgem que se casa e se torna a esposa perfeita. Laura Palmer uniu as duas versões; ela representava a namoradinha da América que por trás das aparências era uma mulher com desejos os quais a levavam a uma vida de promiscuidades. Ao introduzir a personagem na série, ela aparece morta, fato este que simboliza, justamente, o fim da heroina com uma imagem imaculada, pois logo que as investigações têm início, a segunda imagem de Laura começa a se formar.


A morte de um perfil amplamente explorado também é vista através do personagem do agente Dale Cooper, uma caricatura de Lynch e Frost. Ele representa o herói com a moral imaculada, a imagem do americano ideal, a personificação do governo e do representante de Deus, que ao longo de toda a série se deslumbra com as nuances do ser humano, com a beleza da natureza e de uma sociedade, enquanto passa por provações as quais poderiam modificar seu caráter ou seu comportamento. No entanto, Dale permanece imaculado, tal qual o herói das séries de TV ao longo de quatro décadas; mas, ao chegar no último episódio, essa imagem também chega a seu final. Quando Cooper se olha no espelho, David Lynch mostrou à América o perfil que surgiria a partir dali: o mal e o bem se uniram, transformando para sempre o herói das séries de TV.

O Legado

Assistir a "Twin Peaks" hoje, com o olhar que foi desenvolvido ao longo dos anos, pode parecer para o telespectador desavisado, uma série ultrapassada e até meio trash. Isso porque a evolução que o formato seriado sofreu desde "Twin Peaks" trouxe um refinamento daquilo que foi proposto originalmente. Daqui a 20 ou 30 anos o mesmo ocorrerá com "Lost" ou "24 Horas", séries consideradas pela mídia e fãs atuais como revolucionárias.

Embora a TV aberta tenha se beneficiado com as mudanças promovidas por "Twin Peaks", são as produções da TV a cabo que mais usufruem de seu legado. A TV aberta conseguiu pegar os elementos de "Twin Peaks" e encaixá-los nas fórmulas que compõem uma série de TV, oferecendo produções inovadoras por um lado, mas que, por outro, são formatadas. Por outro lado, uma boa parte da produção da TV paga mantém a verdadeira liberdade criativa proposta por "Twin Peaks", no mesmo nível em que explora estéticas e desenvolvimentos narrativos, aliados ao estudo de personagens mais complexos.

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Comentários

David® disse…
nossa fernanda...genial, como sempre, seu texto!

Daria uma ótima monografia pra qq estudante do tema...rs

mas senti falta da análise dos principais personagens...fica pra uma próxima?

abraços
Anônimo disse…
Parabéns pela analise. Twin Peaks mudou minha forma de ver TV e também minha visão das pessoas. Havia acabado de entrar na faculdade naquela epoca e eu e meus amigos formamos um grupo para ver a serie na cãs de um de nos a cada domingo. Bons tempos!
Unknown disse…
Muito bom este texto

Twin Peaks foi uma série muito importante, lembro que a Globo quando exibiu judiou muito a série, só foi descobrir a força dela quando consegui assistir completa, na TV a cabo
Anônimo disse…
Excelente texto, Fernanda.
Os atores da série não deram muita sorte, né?
Fernanda Furquim disse…
Obrigada a todos pelos comentários! Fico feliz que tenham gostado da postagem!!! :D

Realmente os atores não deram lá muita sorte. Mas em geral é isso mesmo que ocorre com a maioria dos atores que séries que fazem muito sucesso. Um ou outro é que consegue se manter.
Unknown disse…
Adorei! Sempre gostei de Twin Peaks e concordo que a série influênciou muito a TV, Arquivo X usou explicitamente muito das sub-tramas e inclusive o ator que faz o Major Brigs é o mesmo que interpreta o pai da agente Scully. Sem falar que Lost tem uma estrutura parecida. Parabéns Fernanda, valeu pelo post.
naomi disse…
gâsh, meu comentário sumiu. xeu tentar de novo: post excelente! já favoritei pra reler depois que eu ever os dvds. assim como o david, também fiquei curiosa com as suas impressões sobre os personagens. só uma dúvida: se a josie é viúva do irmão de catherine, ela é sua cunhada e não nora, é isso?

voltando ao escopo, eu cheguei a comprar o livro "o diário de laura palmer" e o filme "fire walk with me" [só faltou o livro do agente cooper] de tão fissurada que fiquei pela série. foi uma pena mesmo que os atores se apagram depois.

parabéns pelo post, mas beware of bob! ;o)
Ótimo post, eu ainda não consegui assistir a 2ª temporada dessa série, mas a 1ª,prende vc na frente da tv, até o último minuto.
Fernanda Furquim disse…
Oi Naomi, obrigada pelo comentário!
Vixi, é cunhada! Obrigada!
Flávia Furquim disse…
É! A gente sabe que as décadas de 70 e 80 trouxeram muitos elementos pra acabar com a "inocência" na TV, mas acho que só mesmo com Twin Peaks é que isto realmente aconteceu. Esta série meio que me "assombrava" e a trilha sonora sublinhava toda aquela dualidade de maneira assustadora... Pelo menos era assim que eu me sentia assistindo os episódios naquela época. Excelente análise, Fer!!
Fernanda Furquim disse…
Doug - obrigada! A primeira realmente é bem melhor!

Flávia - Eeeeeee, maninha linda!!!! : D
A flavia tem razão muitas vezes a trilha sublinhava a cena.
e sem contar que a trilha sonora é muito boa.
depois deste post vou ter que arrumar a 2ª temporada dessa série, pq tô super curioso.
Fernanda Furquim disse…
Confesso que depois de 20 anos, assistindo novamente a série em uma tacada só, gostei bem mais da segunda fase da trama do que da primeira vez que vi!!! :D

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