As Séries Canadenses

Embora a TV brasileira, aberta ou fechada, traga muitas séries americanas, existem produções do gênero sendo feitas em outros países que merecem atenção. Tentarei comentá-los com maior frequência, já que a proposta deste blog é falar de séries de todas as épocas e lugares. Um dos países que gostaria de comentar agora é o Canadá, que fica vizinho dos EUA e, por isso, sofre uma forte influência da produção americana, bem mais que o Brasil. A produção canadense é quase inexistente já que muitos artistas, diretores, roteiristas e produtores acabam migrando para os EUA em busca de melhores salários.

Os EUA vêm ampliando desde os anos 90 a produção de suas séries no Canadá, em função da oferta de melhores condições financeiras em se produzir lá, além do cenário ser muito parecido, embora distinto. Vancouver é uma das cidades que mais tem sido utilizada pelos produtores americanos. No entanto, outras cidades e estados têm uma estética de igual importância que ainda não foram explorados devidamente.

Wojeck

De qualquer forma, a produção televisiva canadense tenta, de tempos em tempos, ressurgir em meio "as cinzas". Logo que a TV surgiu no Canadá, o gênero no qual se investiu mais foi o Teleteatro, os quais, ao longo dos anos, ganhariam a estética de telefilmes. Tanto na Inglaterra quanto no Canadá, as séries sempre foram consideradas um produto de menor qualidade em função de suas fórmulas e narrativas limitadas a situações semanais.

Foi somente nos anos 60 que o Canadá produziu uma série que iria conquistar a crítica do país, chegando ao ponto de, não só ser exportada, mas servir de inspiração para a produção de uma série americana. Trata-se de “Wojeck” produzida entre 1966 e 1968, que trazia as aventuras de um legista da polícia, interpretado por John Vernon, investigando crimes. A série foi exportada para os EUA e serviu de base para a produção “Quincy – Corpo de Delito”, 1976 a 1983, primeira produção americana que explorava esta temática.

Street Legal

Na década de 80, "Streel Legal", série de tribunal, estabeleceria um novo marco na produção deste gênero no país. Seguindo o estilo de "Nos Bastidores da Lei/L.A.Law", de Steven Bochco, a série explorou o sistema legal do Canadá bem como características de sua cultura.

Nos anos 90, "Maldição Eterna/Forever Knight" competiria de frente com o sucesso de "Higlander". Na série, temos Nick Knight, um vampiro que trabalha no turno da noie como detetive da polícia. Entre situações do passado e presente apresentados em paralelo, temos a história deste homem narrada de forma a apresentar ao público a luta de Knight em controlar seus instintos vampirescos.

Outras produções surgiram ao longo das décadas no Canadá, algumas importantes, outras não, algumas marcaram épocas, outras desapareceram. Tentando reproduzir o estilo de séries americanas que fazem sucesso junto aos canadenses, a televisão deste país ainda procura um estilo próprio. Às vezes consegue acertar e produzir verdadeiras pérolas, outras vezes, cumpre com seu objetivo e outras, …é melhor nem mencionar.

A série de maior sucesso no Canadá até hoje é uma produção dos anos 90 que iniciou como uma co-produção americana; no meio do caminho a CBS decidiu sair e a série continuou a ser produzida apenas pelo Canadá por mais dois anos. Trata-se de “Rumo ao Sul/Due South”, já exibida no Brasil pela TeleUNO.

A série retratava a relação de amizade e as aventuras de dois policiais, um canadense, Benton Fraser, e outro americano de descendência italiana, Ray Delvecchio. Ambos vivendo em Chicago para onde Fraser, um polícia montada, e seu lobo surdo, Dief, se dirigiu seguindo as pistas dos assassinos de seu pai. Quando os americanos deixaram a produção, David Marciano também saiu. Assim, Callum Keith Rennie, atualmente no elenco de "Battlestar Galactica" entrou em seu lugar na terceira temporada.

Nesta fase, a série carregou ainda mais no humor nonsense e na ironia. Com isso, fez uma brincadeira muito criativa com uma questão muito comum na produção deste gênero: a substituição dos atores para personagens que não poderiam ter deixado o elenco ou a série terminaria. Como foi o caso, por exemplo, de "A Feiticeira", em que Dick Sargent substituiu Dick York. Como Samantha não poderia se divorciar ou ficar viúva para se casar de novo, caso contrário destruiria o propósito da trama, o ator assumiu o personagem sem qualquer explicação.

Callum Keith Rennie, Paul Gross e
David Marciano em Rumo ao Sul


Pois bem, em "Rumo ao Sul", Callum assume o personagem de David Marciano sem qualquer explicação. Mas, quando Fraser o encontra, ...não o reconhece. Embora todo mundo trate o sujeito como sendo Ray Delvecchio, Benton insiste em dizer que "nunca esquece um rosto" e que aquele homem não é seu amigo Ray. Ao longo do episódio a situação é desenvolvida brilhantemente até definir a substituição da troca dos atores para o resto da série.

Com referências a filmes do cinema como “Janela Indiscreta”, “Edward Mãos de Tesoura” ou “A Princesa e o Plebeu”, a série conquistou aos poucos um público que lhe é fiel até hoje. Criada por Paul Haggis, responsável por “Crash”, que terá uma versão em breve na TV, “Rumo ao Sul/Due South” virou cult rapidamente entre os canadenses.

No elenco, além de David Marciano como o policial americano, estava o canadense Paul Gross, como o polícia montada Benton Fraser. Com esta série, Gross se tornou o mais bem pago ator canadense e, graças a seu currículo, um dos mais importantes artistas de seu país. Ator de teatro, cinema e TV, roteirista, diretor, produtor e defensor da classe artística canadense, Gross é um dos poucos que se recusa a fazer carreira nos EUA, o que lhe dá ainda maior fama em seu país.

Slings and Arrows

Ele e sua esposa, Martha Burns, estrelaram “Slings & Arrows”, produzida entre 2003 e 2006, com apenas 18 episódios. A série é um dos últimos sucessos da TV canadense; aclamada pela crítica local, recebeu vários prêmios nacionais e internacionais. Fernando Meirelles está adaptando a série para o Brasil sob o título de “Som e Fúria”. A história narra os bastidores de uma companhia de teatro que luta para manter sua integridade artística em meio às pressões do público, da mídia e dos patrocinadores.

Enquanto não se envolve em um novo projeto para a TV, o ator Paul Gross lança neste mês seu mais recente filme, “Passchendaele”, escrito, dirigido e estrelado por ele. A produção foi inspirada nas experiências de seu avô durante a 1ª Guerra Mundial. No filme, Gross interpreta seu avô.

Flashpoint

Outra série que tem conquistado público e crítica, muito embora ainda esteja desenvolvendo sua narrativa, é “Flashpoint”, que retoma a co-produção Canadá-Estados Unidos. Estrelada pelo americano Enrico Colantoni, a série retrata o dia-a-dia de uma tropa de elite. Explorando a ação das situações e o drama dos personagens envolvidos, a série conseguiu uma ótima audiência...nos EUA, pois, no Canadá, ela é bem menor.

Enquanto que os americanos dão à série uma média de 8 milhões de telespectadores, os canadenses oferecem apenas um milhão. O sucesso no país vizinho promoveu a renovação de "Flashpoint" para uma segunda temporada. Um dos principais motivos de uma audiência menor no Canadá é, justamente, a questão cultural em relação à produção local para a televisão. Os canadenses costumam dizer que eles não tem televisão. Por outro lado, enquanto que o americano costuma dar uma boa audiência para séries que exploram a ação, adrenalina e explosões, os canadenses, preferem dramas que se relacionam com a história local e valores humanos ou comédias com humor irônico, ou seja, intelectual ou nonsense. Embora não deixem de assistir às produções americanas.


Atualmente, a produção de séries canadenses teve uma nova "injeção de ânimos", talvez em função das co-produções, aspectos técnicos e possibilidades maiores de exportação. A grande maioria é de menor repercução, embora produções como "Little Mosque on the Prarie" e "Corner Gas" tragam questões culturais bastante valorizadas pelo país e pela crítica local.

Séries como "Durham County", por exemplo, que parecia ter sido cancelada com apenas seis episódios, está voltando. Esta semana sua produtora, a Back Alley Film anunciou que irá produzir uma segunda temporada. Trata-se de uma série que acompanha a vida de moradores de uma pequena cidade na qual dois homens que estudaram juntos se encontram em lados opostos. O primeiro é um policial da homicídios e o segundo, suspeito de ser um serial killer. A abertura da série é fantástica e traz um visual que eu espero, um dia, seja utilizado na produção de uma série: o preto e branco artístico, em referência ao expressionismo alemão.

A mesma produtora já planeja novas séries, como "Arousal", história de suspense e erotismo sobre uma médica que está prestes a perder tudo o que conquistou na vida em função de um segredo do passado que está para ser revelado. Uma semana antes de seu casamento ela se envolve com um estranho em uma relação que se torna compulsiva.

A outra série que está sendo divulgada pela produtora é "The Mark", drama que acompanha a vida de Madison, uma mulher que busca a redenção por sua participação em um ato de vingaça que terminou em assassinato. Atualmente trabalhando como repórter investigativa, Madison descobre que possui uma marca no corpo que é utilizada por espíritos como condutor para este mundo. Forçada através desta marca a escrever textos que visam levar à justiça atos cometidos contra eles, ela se torna uma espécie de médium que psicografa mensagens.

Ambos os projetos estão em fase de desenvolvimento, ainda sem previsão de estréia. Para não prolongar ainda mais o texto, que tinha como objetivo situar vocês em relação ao universo das séries no Canadá, termino por aqui. Ao longo do meu trabalho com este blog pretendo trazer informações sobre outras séries que estão sendo produzidas em outros países, mesmo que sirvam apenas como curiosidades, já que a maioria não deve chegar por aqui.

Comentários

Unknown disse…
EXCELENTE post!!!!

Ótima iniciativa.

Se não for abuso rsrs, gostaria de pedir que vc incluisse comentários e informações sobre Seriados Ingleses também.
Unknown disse…
Excelente iniciativa, texto melhor ainda!
Anônimo disse…
não sei não...
o início de Durham County com a menina com aquela máscara/fantasia parecendo sei lá uma boneca que fala, um tipo de monstro ou alguma coisa assim... convenhamos, é um tanto assustador!

já Flashpoint parecia ser mais do mesmo, mas mostrou que é produto de excelente qualidade.
Roberto Junior disse…
Quando chegou na parte de ''Para não prolongar ainda mais o texto, que tinha como objetivo situar vocês em relação ao universo das séries no Canadá, termino por aqui.''Pensei ''aaaaaahhhhhh, estava tão bom''.Ótimo texto Fernanda,parabéns.Espero ansioso pelos próximos textos.
Fábio disse…
Oi Fernanda,
Vc esqueceu de mencionar a série Ready or Not nesse post. Essa serie foi produzida nos anos 90 e chegou a passar na Globo.
Anônimo disse…
Fernanda, muito legal o post, curto bastante séries canadenses e de outros países. Além de "Cold Squad", uma série que acompanhava no Multishow era "Fortier", produção franco-canadense que teve 5 temporadas (2001-2004), cuja protagonista, Anne Fortier, é uma psicóloga forense. Além das excentricidades de Fortier, a série era interessante por retratar a parte francesa do Canadá, o que a destaca entre as demais séries do país, que são em sua grande maioria ambientadas na parte britânica.
Magog disse…
Sem querer ser chato (e já sendo), o nome do vampiro de Forever Knight era "Nick", Michael era o motorista da Super Máquina.

Parabéns pelo Blog.
Fernanda Furquim disse…
Oops! Lapso! Thanks!
Nathasha disse…
Gostei muito do texto, parab'ens!! Vale a pena tamb'em mencionar um novo seriado canadense chamado Heartland. Eu sempre assisto e acho muito legal, gostaria que voc^e divulgasse em seu blog... aqui no Brasil passa no canal Boomerang, j'a no Canad'a passa na CBC. :D
ANIME10 disse…
Este comentário foi removido pelo autor.

Postagens mais visitadas deste blog

Monk dá Adeus ao Público (com adendo)

Gravidez nas Séries de TV

Johnny Palermo (1982-2009)