Flash Forward Dá Início à Sua Visão do Futuro Esta Noite

Esta noite o canal ABC americano estréia a série "Flash Forward" que tem como base um livro de mesmo título escrito pelo canadense Robert J. Sawyer. A obra ganhou o prêmio Prix Aurora em 1999, que celebra o melhor da ficção científica canadense.

Adaptado por Brannon Braga e David S. Goyer, que também dirige o episódio piloto, a série tem 13 episódios iniciais encomendados, os quais, até o momento, já foram vendidos a aproximadamente 40 países, incluíndo o Brasil, onde a produção deverá estrear pelo canal AXN por volta de fevereiro de 2010.

A série é estrelada por Joseph Fiennes, John Cho, Jack Davenport, Zachary Knighton, Peyton List, Dominic Monaghan, Brian F. O'Byrne, Gabrielle Union, Courtney B. Vance, Sonya Walger e Christine Woods, entre outros. A grande maioria dos nomes dos personagens foram trocados em relação ao livro. Os direitos para adaptação foram comprados com a idéia de se produzir um filme, mas ao longo do caminho o projeto foi transformado em seriado, sendo que os produtores garantem que desenvolveram a trama para durar ao menos três anos.

Robert J. Sawyer

Oferecida inicialmente à HBO, o canal passou a série adiante ao conferir os primeiros roteiros, acreditando que a produção seria mais adequada a um canal aberto. Mas o canal não abriu mão do potencial de lucro da série, visto que ele detém direito a uma participação financeira no valor que gira em torno de 5 a 7.500 dólares por cada episódio, mais 7% no lucro das reprises. Este é um tipo de acordo que vem se tornando comum em Hollywood.

Quando um canal percebe que não tem condições de acomodar uma produção, seja por que motivo for, mas percebe seu potencial financeiro, ele passa a produção adiante, mas em troca de liberá-la, negocia uma participação nos lucros. Isto porque para ser avaliado o potencial de uma série um canal investe em seu desenvolvimento. Ao recusá-lo, ele pode simplesmente trancar a produção daquele produto por meses ou até mesmo anos; ou, pode negociar com os envolvidos com o projeto um valor para liberar o projeto para outro canal.

"Flash Forward" não é a única e nem será a última, recentemente teve o caso de "Life Unexpected" que será exibida pela CW, mas que a ABC tem participação por ter liberado o projeto, além da CBS que o produz; e "In Plain Sight", do USA, dá lucro à CBS, que liberou o projeto, e à NBC, que a produz.

Mas este não foi o único impecilho dos produtores para ver sua série exibida por um canal de TV. Para conseguir fechar um acordo com a ABC, Brannon Braga precisou afastar-se da equipe criativa, visto que ele tem um contrato com a série "24 Horas" da Fox. No entanto, Braga continua na equipe de produtores executivos de "Flash Forward".

Problemas de produção à parte, a série gerou uma grande expectativa junto ao seu público alvo. Na trama, um misterioso efeito a nível global faz com que as pessoas sejam capazes de ver seu futuro durante 2 minutos e 17 segundos. As imagens que testemunham supostamente ocorrerão dentro de seis meses no futuro. O agente do FBI Mark Benford (Joseph Fiennes) é um dos primeiros a tentar juntar o quebra-cabeças para descobrir o que está acontecendo. Ele e sua equipe criam um database online chamado Mosaico Coletivo, no qual as pessoas do mundo inteiro poderão registrar o que viram.

Algumas visões envolvem situações políticas e sociais, outras são mais pessoais, mas todas causam um certo constrangimento pelo simples fato das pessoas não saberem a origem e os motivos pelos quais tiveram estas visões. Algo que difere do livro, visto que na obra do autor a causa do evento é revelado logo de início.

Há alguns dias o piloto vazou na Internet, permitindo que algumas pessoas tivessem uma "visão antecipada" da história que está para ser iniciada esta noite na TV americana. O piloto dá início à trama, apresentando os personagens centrais e alguns secundários com suas relações, suas posturas e suas características.

Embora a proposta seja interessante e intrigante, o piloto não tem o mesmo impacto que o primeiro episódio de "Lost", série utilizada pelo marketing de "Flash Forward" para se auto-promover. Não que a série precisasse apelar para esta comparação, visto que sua proposta por si só já conseguiria vender a produção junto ao público. Mas em primeira análise, o piloto cortou caminho para chegar no tema proposto pela série. Visto que só o final do episódio é que dará de fato início à trama, o piloto foi desperdiçado na exposição das consequências do blackout.

Quando os EUA sofreram os ataques terroristas do 11 de setembro, a cidade de Nova York entrou em pânico, gerando um caos. As linhas telefônicas ficaram congestionadas durante dias, o trânsito se tornou caótico, o acesso às imediações do WTC estavam bloqueadas e apesar de muitos tentarem ajudar a resgatar os sobreviventes, a grande maioria dos moradores dividiam-se entre reações de choque e incredulidade, ou histeria e depois depressão. De qualquer forma, durante dias os moradores da cidade continuavam incrédulos, sem entender o porquê do que estava acontecendo.

Em plena época de produções seriadas que exploram o realismo, "Flash Forward" pecou em não expôr este estado caótico, cuja referência ainda está fresca na memória de muita gente. A cena seguinte ao "apagão", no qual as pessoas têm a visão do futuro, revela uma catástrofe a nível mundial. A proporção é maior, visto que não estava restrito a um único local e ocorrência, atingindo a todos que operavam algum tipo de veículo ou máquina que precisavam da atenção de um ser humano.

Não foram apenas dois aviões que destruíram um prédio, foram centenas de aviões e helicópteros. Só na cidade de Los Angeles, onde a série é situada, devem ter ocorrido dezenas. Mas ao invés do piloto se ater às conseqüências imediatas da situação provocada pelo blackout, a história passa rapidamente pelo caos, mostrando, inclusive, que o serviço de telefonia americano é perfeito, já que Mark consegue, na primeira chamada, falar com sua esposa no hospital, onde ela trabalha como médica.

Quatro horas depois, as pessoas estão tranquilas, capazes de racionalizar a situação, sem qualquer sinal de alteração em seu estado emocional ou mental, conseguindo, inclusive, lembrar de detalhes sobre algo que não esperavam ver e que viram rápidamente, seguido da surpresa de deparar-se com uma situação catastrófica. No fim do mesmo dia, marido e mulher se deitam calma e tranquilamente na cama onde a única preocupação é se um vai trair o outro.

Por mais que se queira que a série seja um absurdo de boa, não dá para ignorar esta passagem rápida por algo que poderia dar sustentação e realismo à série. A não ser que tenha sido proposital, a produção revelou com o piloto que ela corre o risco de não desenvolver adequadamente a trama e os personagens, preferindo focar no desenvolvimento da proposta. Terá sido por isso que a HBO passou a série adiante?

Confira fotos promocionais do elenco aqui, aqui e aqui.

Os títulos dos primeiros episódios são:

01. No More Good Days
02. White to Play
03. 137 Sekunden
04. Black Swan
05. Give Me Some Truth
06. Scary Monsters and Super Creeps
07. The Gift
08. Rules of the Game

Comentários

Renata disse…
Muito boa a análise!

E estou gostando da série =P
Thiago Silva disse…
desconhecia o fato de que no livro o motivo do blackout é revelado logo no início. sabe nos dizer Fernanda se o livro foi lançado aqui no Brasil?
bela análise, parabéns :)

só um toque: "o piloto foi desperdiçado na exposição das consequências do blackout."
Fernanda Furquim disse…
Obrigada Celeste e Thiago!
Sobre o livro, que eu saiba não foi lançado no Brasil, mas talvez seja possível encontrar no formato pocket book em alguma livraria que tenha importados.
Robinson Crusoé disse…
Achei mais ou menos. Quanto aos aviões, sua queda não é assim não. Tem piloto automático - a menos que estivessem pousando ou decolando na hora do blecaute.
O que mais me impressionou foi, depois do caos, o hospital límpido e fagueiro de noite. Quem conhece hospital morreu de rir.

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