Review: True Blood - 1ª Temporada

Chegou este mês às lojas o box em DVD da primeira temporada de "True Blood". A produção de Alan Ball, de "A Sete Palmos/Six Feet Under", tem conquistado público e crítica nos EUA. Aqui no Brasil sua popularidade ainda é menor em comparação, mas crescente graças à Internet e agora com o DVD.

A série tem como base os livros de Charlene Harris, publicados entre 2001 e 2009. Conhecidos como The Southern Vampires Mysteries, a autora já publicou nove livros narrando as aventuras de Sookie e seus amigos: "Dead Until Dark", "Living Dead in Dallas", "Club Dead", "Dead to the World", "Dead as a Doormail", "Definitely Dead", "All Together Dead", "From Dead to Worse" e "Dead and Gone". Também existem alguns contos e histórias curtas estreladas por personagens da série de livros e que não contam com as participações de Sookie.

A trama é simples. Temos uma jovem sulista que se apaixona por um vampiro chamado Bill. Ambos enfrentam as oposições das sociedades que eles representam, as quais, cada uma à sua maneira, não aceitam esta miscigenação.

Quando a série estreou causou reações opostas, alguns críticos gostaram, outros acharam o piloto "esquisito" e outros simplesmente não gostaram. Mas o público, leitor da obra de Harris, demonstrou interesse e ansiedade para conhecer a visão de Alan Ball. O painel da série na Comic Con de 2008 foi o mais concorrido, sinal de que a produção não passaria desapercebida quando estreasse na TV.

A resposta foi rápida e a prova mais recente de que a série agradou está no fato de que a primeira temporada em DVD já alcançou a marca de 1 milhão de boxes vendidos somente nos EUA em um único mês.

Se é uma obra de arte? Não, mas tem consistência e apelo popular. O apelo está na trama principal, um "Romeu e Julieta" vampiresco. Mas se você procura por algo mais denso e profundo, dê uma olhada mais de perto na série e encontrará um ambiente riquíssimo e uma construção de personagens que vale a pena acompanhar.

Situada em uma cidade do sul dos EUA a série, em sua primeira temporada, traz uma boa seleção de personagens e situações que representam de forma abrangente os hábitos e costumes sulistas. Não apenas no sotaque, mas na linha de pensamento e comportamentos, retratados em pequenos comentários aparentemente desnecessários, passando por atitudes que para os desavisados podem parecer absurdas, chegando no desenrolar da própria trama em si.

Charlene Harris soube explorar uma cultura ainda atrasada abordando questões como o preconceito à relacionamentos entre duas raças distintas, a presença do pensamento e atitudes religiosas que estão enraigadas nas comunidades sulistas, as questões políticas, passando pelos vícios, chegando à essência do ser humano e seu medo à solidão, temperadas à uma linguagem de metáforas.

Trazendo para as telas da TV, os roteiristas souberam captar esta mensagem. Entre fantasias, folclores e mitos a série explora a imaginação humana questionando comportamentos, seduzindo com imagens de atos sexuais intensos (para a faixa etária a qual se destina) e instigando a curiosidade do público sobre o destino dos personagens.

A primeira temporada tem como base o livro "Dead Until Dark". A série começa com a informação de que os vampiros "saíram do caixão", alusão ao termo "saíram do armário" dado aos homossexuais. Eles convivem na sociedade junto com os humanos graças ao surgimento do sangue sintético desenvolvido por uma empresa japonesa (ótimol!) o qual é vendido em garrafas.

Assim, com o "True Blood", o sangue sintético, a sociedade pode ficar tranqüila em saber que os vampiros estão à solta. Estes, por sua vez, buscam uma legitimação, criando fundações e associações para defenderem seus direitos junto à sociedade dos humanos. É claro que existem as gangues, que não aceitam limitações impostas ao seus estilos de vidas e portanto escolhem viver à margem de sua própria sociedade.

Sookie Stakhouse

No elenco principal da trama temos Sookie (Anna Paquin) uma jovem garçonete capaz de ler os pensamentos das pessoas. Este dom foi descoberto quando ela ainda era criança e, aparentemente, todos na cidade sabem sobre ele. Este dom será sua salvação e seu castigo posteriormente.

Criada pela avó que lhe dá total liberdade de tomar suas próprias decisões, algo raro no ambiente em que ela vive, Sookie demonstra ser uma jovem inteligente e corajosa. No entanto, aos poucos, o público vai percebendo que ela é apenas uma menina no corpo de uma mulher adulta.

Jason Stakhouse

Inexperiente, ingênua, de pouca cultura, deslumbrada pelo novo Sookie vai aos poucos descobrindo o mundo em que ela vive. Protegida pela avó, Sookie não conhece de fato as pessoas e do que elas são capazes. Ao longo da primeira temporada ela vai caindo em si, o que a leva a decepcionar-se com alguns e a agarrar-se a outros. Sua vida sofre uma reviravolta e a pouca experiência de vida de Sookie a faz ficar sem base para tomar as decisões. Sua honestidade para consigo e seus sentimentos são as únicas armas que ela tem para enfrentar o mundo que se abre para ela.

Neste mundo está seu irmão, Jason (Ryan Kwanten), um jovem viciado em sexo que logo encontra outro vício ao qual dedicar-se: o sangue dos vampiros que dá aos seres humanos a capacidade de elevar seus sentidos, em uma alusão ao uso das drogas. Posteriormente Jason irá se dedicar à religião, a qual será explorada pela série como um vício da humanidade.

Tara Thorton

Tara Thorton (Rutina Wesley) é a melhor amiga de Sookie. Mas a jovem tem grandes problemas. Talvez a personagem que melhor represente uma a vida no sul dos EUA. Negra, filha de mãe alcóolatra, sem pai, cresceu praticamente sozinha tendo o apoio da avó de Sookie. Apaixona-se por um jovem que não percebe sua existência e não consegue manter um relacionamento ou um emprego. O rancor e a tristeza acumulados durante anos endureceram Tara que acredita não precisar de ninguém para viver. Mesmo sabendo não ser verdade, Tara afasta todos que a cercam com um diálogo rude e sincero em excesso.

Sua relação com a mãe é um dos pontos altos desta temporada. Através das duas temos a oportunidade de ver explorada as questões de fé, do vício, da dor de um relacionamento entre mãe e filha, bem como do abandono.

Por curiosidade, Rutina Wesley substituiu Brook Kerr, que chegou a filmar os dois primeiros episódios.

Sam Merlotte

Ainda no elenco central desta primeira temporada temos o jovem Sam Merlotte (Sam Trammell) o rapaz "boa gente", apaixonado por Sookie, incompreendido e solitário que busca por alguém a quem amar. Logo descobrimos que existe uma longa história por trás do rapaz aparentemente apático. Ele irá representar uma das tramas que será posteriormente explorada.

Bill Compton

E, é claro, temos o vampiro Bill. Curiosamente, Alan Ball não escolheu um modelo de capa de revista para interpretar o romântico vampiro. Stephen Moyer mais parece um ator de filmes pornôs dos anos 70 que propriamente um herói romântico do século XXI. Mas ele dá conta do recado em sua segunda incursão como vampiro. A primeira foi na minissérie britânica "Ultraviolet", de 1998.

Bill surge do nada na vida de Sookie (e da atriz Anna Paquin, já que os dois começaram a namorar depois que se conheceram no episódio piloto). Solitário, Bill não se envolve nem mesmo com sua própria gente, os vampiros. Ele servirá de elo de ligação entre os dois mundos promovendo situações de risco para Sookie e seus amigos, ao mesmo tempo em que luta para conseguir demonstrar seus sentimentos à muito adormecidos.

Sua história será narrada ao longo da primeira temporada, fazendo com que o público o aceite e dê suporte para sua história de amor, a qual ao longo de toda a série sofrerá com os interesses e atitudes de terceiros.

Em sua primeira temporada "True Blood" conseguiu apresentar sua proposta e provar sua força junto ao público. No entanto, a série dependerá do pulso firme de Alan Ball para não correr o risco de se perder ao longo de sua jornada. Visto que ela se apóia em dois elementos significativos: a trama de aventuras fantásticas e a construção sócio cultural de personagens/ambiente presentes nos livros.

Desta forma, com a fama, Ball precisa controlar os interesses econômicos e populares para não permitir que a aventura se sobreponha ao embasamento cultural no qual a série foi contruída e o qual lhe dá a legitimidade junto à uma crítica especializada.

Com uma bela fotografia que trabalha os tons fortes ao longo do dia e a cor acizentada com o jogo de luz e sombra durante a noite, a série mantém a presença do ambiente sulista em seus cenários e figurinos mesmo sendo filmada em Los Angeles; apesar de pequenos escorregões, como a presença de uma palmeira no episódio 10.

A trilha sonora é assinada por Nathan Barr em seu primeiro trabalho significativo na TV. No cinema ele foi assistente para as trilhas de "Melhor Impossível" e "O Príncipe do Egito" e assinou a trilha de "Os Gatões", entre outros.

"True Blood" - Primeira Temporada

Título Original: True Blood: The Complete First Season
Estúdio: Warner Home Video
Tempo: 641
Cor: Colorido
Ano de Lançamento: 2009
Recomendação: 14 anos
Região do DVD: Região 4
Legendas: Português, Francês, Inglês
Idiomas / Sistema de som: Dolby Digital 2.0
Formato de tela: Widescreen
Nº de Discos: 5
Preço de Lançamento: R$119,90
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Comentários

Rafa Bauer disse…
Quando vi que era uma review, já vim com medo de lê-la, pq amo a série e lembro que no começo vc não gostou não... E ainda não gostou o fato de a Anna Paquin ter ganho o Globo de ouro em detrimento da January Jones... rs...
Mas gostei de ver que vc mudou de ideia!

Mudando de assunto, o TCM pulou mais um episódio de Combat! Ai ai ai... era pra ser o 8, exibiram o 9... já pularam 2 ate agora...

Bjuzz
Fernanda Furquim disse…
..continuo achando que ela não deveria ter ganho! hehehehehe

Gostei da primeira temporada, embora não tenha me apaixonado pela série. Vamos ver como ela se sai na segunda!

Duvido que o TCM exiba a série inteira Rafa, vai se acostumando, eles não exibiram AH Apresenta inteiro...
Rafa Bauer disse…
Ah, Fernanda, eu passo raiva... Agora hj, no domingo, repetiram o episódio de ontem. Vc tem email do TCM??

Bjuzz
Fernanda Furquim disse…
Passa lá no teu e-mail Rafa.
Marcos Kromb disse…
Só um adendo: não comprem o DVD no Brasil, comprem o Blu-Ray americano. A lata é muito mais linda, e tem legendas em português do Brasil no seriado e nos extras (aliás, tá virando moda, ainda bem, que os seriados HBO saiam com legendas nos Blu-Rays americanos... E pelo preço, vale bem a pena!!!
Anônimo disse…
Ola!
A segunda temporada de TrueBlood acaba de começar. Quem ainda não viu a primeira, pode ter acesso ao Box com 5 DVDs em http://migre.me/3Eou.
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