Patrick McGoohan (1928-2009)

Outro ator que fez parte de minha infância. Criou e estrelou uma das mais significantes séries da década de 60, "O Prisioneiro", responsável direta pela abordagem que passou a ser adotada a partir dos anos 90 pelas séries de TV americanas, a qual continua sendo utilizada até os dias de hoje.

Patrick McGoohan faleceu aos 80 anos nesta terça-feira, dia 13 de janeiro, em Santa Monica após passar um período enfêrmo. Intelectual, crítico político e com um humor mordaz, Patrick sempre viveu afastado do mundo das celebridades.

Nascido Patrick Joseph McGoohan em 19 de março de 1928, em Nova York. Filho de emigrantes irlandeses, seus pais voltaram para seu país de origem logo após seu nascimento. Mais tarde, mudaram-se para a Inglaterra, onde Patrick foi criado. Com a chegada da 2ª Grande Guerra, o jovem foi enviado para o interior.

"Be seeing you"

Patrick abandonou a escola aos 16 anos e chegou a cogitar tornar-se padre. Chegou a estudar a bíblia e dedicar-se à religião, mas largou tudo e voltou-se para o teatro após passar pelo boxe e vários empregos. Foi diretor de palco até tornar-se ator quando substituiu um colega doente.

Em 1955, interpretou em uma peça um padre acusado de ser homossexual. Sua performance chamou a atenção de Orson Welles que o contratou para integrar o elenco da peça "Moby Dick Rehearsed". Nesta mesma época, começou a atuar em filmes na Inglaterra. Logo depois veio o convite para estrelar a série "Danger Man".

Inicialmente "Danger Man" seria uma cópia de James Bond para a TV. Patrick recusou estrelar a série caso mudanças no personagem e na abordagem das histórias não fossem feitas, entre elas: a diminuição de cenas violentas, do uso de armas e do envolvimento leviano entre seu personagem com o sexo feminino.

Patrick acreditava que era necessário fazer algo diferente do que estava sendo feito. Seu personagem deveria ser meio excêntrico, averso à violência, utilizando o raciocínio para resolver seus casos, e tímido com as mulheres, embora fingisse não ser. Relacionamentos na vida de Drake somente seria aceito pelo ator, se fossem verdadeiros e não como forma de resolver seus casos, ou sob uma abordagem puramente conquistadora.


Após ponderarem, os produtores aceitaram as exigências do ator e Patrick se tornou John Drake. A série foi um grande sucesso na Inglaterra, ultrapassando rapidamente as fronteiras. Durante a produção de um dos episódios, Patrick conheceu as instalações do Hotel Portmeirion, o qual o inspirou a criar uma nova série que foi mais tarde batizada de "O Prisioneiro".

Tendo sido renovada para uma quarta temporada, agora à cores, "Danger Man" iniciou a produção de seus primeiros episódios quando Patrick anunciou que não desejava mais estrelar a série. Em troca, ofereceu "O Prisioneiro", que utilizaria a mesma equipe de produção e seria exibida no lugar de John Drake.

Na apresentação da série à mídia, Patrick apareceu preso em uma jaula, confundindo os jornalistas presentes. A cada pergunta feita pelos jornalistas, Patrick respondia com outra pergunta, confundido ainda mais o público presente que saiu dali sem saber direito do que se tratava a série que eles deveriam divulgar.

Tendo criado a série com base nas manifestações culturais e políticas da década de 60, a série transformou-se rapidamente em cult e em um marco, influenciando gerações de roteiristas e diretores. Seguindo metáforas e símbolos, com uma abordagem surrealista com toques de Kafka, a série teceu uma mordaz crítica política de seu período, levando-a à ser estudada em cursos de Semiótica.

Apesar da fama, Patrick não criou a série sozinho. Contou com a ajuda de George Markstein, roteirista de "Danger Man". Patrick queria utilizar o cenário do Hotel Portmeirion em sua nova série, transformando-o em personagem, não apenas em cenário. Inspirado em fato real que ocorreu na 2ª Guerra, quando eram mantidas prisões-resorts, Markstein deu a idéia de transformar o hotel em uma prisão para onde agentes eram enviados.

Na cabeça de Markestein, o personagem do prisioneiro era John Drake que se demitia, era sequestrado e levado a este hotel prisão onde ele teria que identificar seus sequestradores e fugir. Na cabeça de Patrick McGoohan, o personagem do prisioneiro seria vítima de uma tentativa de anulação de personalidade, a qual ele tentaria manter intacta, sem jamais se deixar transformar em um número. No entanto, o público jamais saberia quem ele era de fato.


Markestein queria uma série simples de ação, McGoohan queria uma série intrincada, cheia de símbolos, sem explicação, deixando para o público absorver e tentar entender seu significado. Quando Markestein defendeu a idéia de dar um episódio final explicativo para o Prisioneiro, McGoohan se opôs e a dupla se desfez, deixando McGoohan sozinho na produção da série. Além de atuar, McGoohan também escreveu e dirigiu vários episódios.

Planejada para ter apenas 7 episódios, a série trouxe um agente secreto, cujo nome não foi revelado, que se demite do serviço secreto. Ele é sequestrado e levado a uma ilha onde, supostamente, outros agentes na mesma situação foram levados. Submetido a torturas psicológicas, ele é constantemente interrogado para revelar os motivos pelos quais pediu demissão. Chamado de Número 6, o agente repete continuamente: "Eu não sou um número, sou um homem livre".

Pouco depois de iniciar a produção, Lew Grade, da produtora ITC, vendeu a série para a CBS americana que exigia um número maior de episódios. A emissora pedia 26 episódios, McGoohan, sentindo-se incapaz de esticar a história por 26 episódios ofereceu 17.

A série e o personagem entraram para a cultura popular sendo constantemente resgatados de forma direta ou indireta. Por exemplo, seu personagem, dublado pelo ator, apareceu em um episódio de "Os Simpsons". Já em "Battlestar Galactica", a cilônia número seis recebeu este número em homenagem à "O Prisioneiro".

A produção inglesa de 1967 introduziu a teoria da conspiração como tema de uma série de TV. Influenciou o surgimento de "Os Invasores" nos EUA, e, posteriormente, foi resgatada nos anos 90 após o sucesso de "Twin Peaks", que bebeu da fonte. Atualmente, é "Lost" que mais se beneficia da série dos anos 60.

Nos anos 90, com o sucesso de "Arquivo X", surgiu a notícia de que o ator estava preparando o roteiro da versão cinematográfica da série, a qual nunca se materializou. No lugar, surgiu uma história em quadrinhos, publicada no Brasil, narrando o que teria acontecido com o número seis após todos estes anos. Atualmente está sendo produzido uma minissérie que faz uma releitura da série. Mas não há notícias de que o ator estava envolvido no projeto.

Afora as duas séries que estrelou, Patrick McGoohan teve participações em outras séries inglesas menos conhecidas. Em 1977 estrelou a série médica de curta duração "Rafferty", também inglesa. Nos EUA, teve participação em "Columbo", para a qual também escreveu e dirigiu alguns episódios, e em "Assassinato por Escrito", além de "Os Simpsons".

Entre seus trabalhos recentes e mais conhecidos no cinema estão o filme "Coração Valente", de Mel Gibson, no qual interpretou o Rei Edward, e "Fantasma", no qual interpretou o pai do herói. Ao longo de sua carreira, o ator recusou vários papéis importantes, por questões pessoais, entre eles James Bond, O Santo (a série), e Gandalf em "O Senhor dos Anéis".

Casado desde 1951 com a atriz Joan Drummond, o casal teve três filhas, Catherine, Anne e Frances. Afastado da carreira de ator desde 2002, McGoohan continuou escrevendo e recentemente cogitava aceitar duas ofertas para voltar a atuar.

Abaixo, cenas de um documentário sobre "O Prisioneiro"



Sendo entrevistado por fãs da série:



Mais uma entrevista sobre a série:


Comentários

Unknown disse…
Outro excelente post.
Anônimo disse…
O ano de 2009 ja começou ruin com o falecimento de varios atores que tornaram a nossa infancia mais feliz.Eu assistia nesta epoca as series :tempera de aço.justiça em dopro e o clube do mickey.Era os anos 70,epoca que a programação da tv era de qualidade,me recordo que a minha tv era p/b, da marca admiral
Anônimo disse…
También ha fallecido Ricardo Montalbán

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