Robin Hood Abriu as Portas da TV Americana para as Séries Inglesas

Richard Greene como Robin Hood (Fotos ITV/Arquivo)

Por Fernanda Furquim

A programação da TV inglesa é mais antiga que a americana. Tendo iniciado na década de 1930, a BBC suspendeu as operações durante a 2ª Guerra Mundial, retornando na segunda metade da década de 1940, época em que a programação americana teve início. Dedicando-se aos teleteatros e dramas históricos, a televisão na Inglaterra definiu o gênero de época. Em meio a adaptações de obras literárias ou teatrais, a produção britânica também investiu em seu folclore.
Dominando sozinha o mercado televisivo, a BBC viu surgir em 1955 seu primeiro concorrente: o canal ITV, também conhecido como Channel 3. Ao contrário da BBC, o novo canal tem o perfil comercial, o que o levou a importar produtos americanos e produzir um maior número de programas de interesse do grande público, entre eles, as séries de aventuras. Enquanto os EUA produziam faroestes, na Inglaterra a produção equivalente era aquela que explorava as histórias situadas no período medieval.
“As Aventuras de Robin Hood” foi uma delas. Produzida por Lew Grade pela Sapphire Films, em parceria com a ITC Entertainment, com a intenção de ser vendida para o mercado internacional, a série foi filmada em película.
Greene e Patricia Driscoll como Robin e Lady Marian 
A Sapphire Films era uma produtora formada pela jornalista de esquerda Hannah Weinstein. Tendo sido incluída na lista da caça aos comunistas da era Joseph McCarthy, Weinstein mudou-se para Londres onde formou a produtora, com subsídios de membros da comunidade hollywoodiana, que apoiavam sua postura política. Assim, a produtora contratou dezenas de roteiristas americanos que também foram incluídos na lista negra do macartismo.
Contando com roteiristas americanos, a série trouxe elementos e desenvolvimentos de situações típicas daquelas que eram vistas com sucesso nas séries de faroestes e  aventuras produzidas nos EUA. Também incluiu questões sociais e de redistribuição de rendas adotadas pelo grupo de foras da lei liderado por Robin Hood. O tema seria resgatado em 1957 pela série “Zorro“, produzida por Walt Disney.
Acredita-se que “As Aventuras de Robin Hood” tenha utilizado cerca de 22 roteiristas listados como comunistas, que adotaram diversos pseudônimos para não serem identificados. Entre eles estavam Waldo Salt (que escreveria o roteiro de “Perdidos na Noite/Midnight Cowboys”), Howard Koch (um dos principais colaboradores do roteiro de “Casablanca”), Ring Lardner Jr. (MASH), Ian Hunter, Robert Lees e Adrian Scott.
Produzida entre 1955 e 1960, “As Aventuras de Robin Hood” foi uma das primeiras séries de época a ser exportada para os EUA, onde foi exibida pelo canal CBS entre 1955 e 1958. Conquistando cerca de 32 milhões de telespectadores por semana (entre EUA e Inglaterra, segundo a TV Guide de maio de 1956), a série estabilizou a produção do gênero, fazendo surgir uma nova leva de programas de época como “Sir Lancelot”, “Sir Francis Drake”,  “O Pimpernel Escarlate”, “Guilherme Tell”, “Os Bucaneiros” e “Long John Silver”, entre outras, todas também exibidas nos EUA.
Esse movimento fez Hollywood tentar explorar o filão. Já investindo há alguns anos na co-produção internacional, a TV americana apostou no gênero em 1958, quando a Screem Gems, subsidiária da Columbia Pictures, foi uma das produtoras da série inglesa “Ivanhoé”, que marcou a estreia de Roger Moore na TV.
As Aventuras de Robin hood” apresentou em 143 episódios a história de Robin e seu bando que se ergueram contra a tirania do Príncipe John e do Xerife de Nottingham. Apoiando-se na história real da própria Inglaterra, os episódios introduziram situações atuais carregadas de cenas de ação. Filmada basicamente em estúdio, a produção da série utilizou cenários sobre rodas para facilitar e agilizar o trabalho das trocas de cenas.
No elenco estavam Richard Greene (Robin Hood), Bernardette O’Farrell (Lady Marian, substituída por Patricia Driscoll a partir da terceira temporada), Alexander Gauge (Frei Tuck) Alan Wheatley (Xerife), Donald Pleasence (Príncipe John, substituído por Hubert Gregg e Brian Haines ao longo da série), Victor Woolf (Derwent), Richard Coleman (Alan) e Archie Duncan (Little John), que se feriu durante a produção sendo substituído por Rufus Cruikshank ao longo de 10 episódios.
Ainda não está claro se esta foi a primeira série inglesa a ser exportada para os EUA. Mas foi “As Aventuras de Robin Hood” que abriu as portas da TV americana para a importação contínua de novas produções britânicas, a maioria delas exibidas em redes regionais. As adaptações teriam início na década de 1960, com o humorístico “That Was The Week That Was”.
Episódios da série já foram lançados em DVD no Brasil pela Multi Media Group. Abaixo, a música tema, composta por Carl Sigman e interpretada por Dick James:
Cena de As Aventuras de Robin Hood

Robin Hood, Robin Hood, riding through the glen
Robin Hood, Robin Hood, with his band of men
Feared by the bad, loved by the good;
Robin Hood, Robin Hood, Robin Hood!
He called the greatest archers to a tavern on the green,
They vowed to help the people of the king,
They handled all the trouble on the English country scene,
And still found plenty of time to sing
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Texto originalmente publicado em 2011, no blog Nova Temporada da VEJA.com, onde fui colunista entre 2010 e 2016.

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