Lembra de O Homem da Máfia?

Por Fernanda Furquim

Na década de 1980, o sucesso das novelas noturnas, como Dallas, bem como as minisséries, fez com que algumas séries dramáticas trocassem a fórmula dos episódios fechados (com situações narradas com começo, meio e fim) por episódios com histórias contínuas (que poderiam durar uma temporada inteira). O Homem da Máfia/Wiseguy foi uma delas. 
Criada por Stephen J. Cannell e Frank Lupo, a série estrelada por Ken Wahl apresentava a vida de Vinnie Terranova, um agente federal que trabalhava infiltrado na máfia.
A série teve quatro temporadas produzidas entre 1987 e 1990, com exibição pela CBS. Em cada temporada Vinnie atuava com diferentes grupos da máfia, oferecendo histórias contínuas. Mas O Homem da Máfia também apresentava episódios fechados, com uma única situação isolada, para fazer a transição entre cada arco.
Na primeira temporada, Vinnie trabalha como braço direito de Sonny Steelgrave (Ray Sharkey), chefe da máfia em Atlantic City. Ainda nesta temporada Vinnie passa a trabalhar para Mel (Kevin Spacey) e Susan (Joan Severance), traficantes de armas que têm como braço direito Roger Loccoco (William Russ), assassino profissional. Embora fossem irmãos, Mel e Susan mantinham relações sexuais.
Vinnie se afasta do serviço secreto e na segunda temporada mora com a mãe que, para desespero do filho, se casa com um mafioso, Don Rudy Aiuppo (George O. Petrie). Enquanto tenta dar um rumo para sua vida, seu irmão, o Padre Pete (Gerald Anthony), é assassinado. Assim, ele recupera seu emprego como agente federal para tentar descobrir quem mandou matar seu irmão. Suas investigações o levam à Calvin Hollis (Paul Guilfoyle), líder de um grupo que prega a supremacia branca.
(E-D) Padre Peter Terranova, Vinnie Terranova, Frank McPike, Daniel e Sonny Steelgrave


Na mesma temporada, Vinnie é encarregado de desbaratar as atividades de Rick Pinzzolo (Stanley Tucci), que aterroriza os comerciantes de roupas. Entre eles, David Sternberg (Ron Silver) e seu pai Eli (Jerry Lewis).
Ainda na mesma temporada, Vinnie precisa se infiltrar na indústria da música e acabar com a máfia que atua nos bastidores das gravadoras. Auxiliando os empresários Isaac Twine (Paul Winfield) e sua esposa Amber (Patti D’Arbanville), Vinnie enfrenta Winston Newquay (Tim Curry).
Na terceira temporada, o padrasto de Vinnie, o mafioso Aiuppo, é assassinado e ele é eleito o chefe temporário da máfia local. Vinnie aproveita para conseguir várias provas que levam alguns dos mafiosos à prisão. Mais tarde, ele descobre que Aiuppo forjou sua morte com o intuito de levar Vinnie a eliminar alguns dos mafiosos que o traíam.
Na mesma temporada, Vinnie é encarregado de se infiltrar na máfia japonesa, que vem fabricando Yen falso enviando-o ao Japão para minar a economia do país. Mas tudo era um plano de agentes do governo, ex-integrantes da gangue de Mel Profit, que tentam acabar com Vinnie, levando-o a se tornar alvo de investigação de um Comitê do governo. Ainda na terceira temporada, Vinnie se afasta novamente da agência. Viajando pelo interior, ele acaba assumindo o cargo de xerife de uma pequena cidade no interior do estado de Washington. A cidade, sob o comando do inescrupuloso Mark Volchek (Steve Ryan), está aterrorizada com as mortes cometidas por um assassino em série.
Quando a última temporada da série teve início, Steven Bauer substituiu Ken Wahl, que foi despedido pela produtora, a Stephen J. Cannell Productions, após uma disputa contratual.
Na história, Vinnie é dado como desaparecido enquanto investigava a máfia de Miami. Assim, Michael Santana (Bauer) é encarregado pelo chefe de Vinnie, McPike (Jonathan Banks), de encontrá-lo.
Quando eles descobrem que Vinnie foi assassinado, Michael se infiltra na máfia cubana comandada por Armando Guzman (Maximilian Schell), que teria ordenado a morte do agente.
A troca de protagonista levou à queda na audiência e ao cancelamento da série. Em 1996, foi produzido um telefilme que ignorou os fatos ocorridos na quarta temporada. Assim, Vinnie Terranova está vivo, novamente interpretado por Wahl. 
Vinnie ao lado de Frank, seu chefe na polícia; e de Daniel, seu contato de emergência com a polícia. 

Apesar da série perder na audiência para produções mais populares da época, O Homem da Máfia marcou a história da televisão. A série ajudou a estabelecer uma fórmula narrativa que foi mais tarde utilizada pelas produções da TV a cabo: situações que se desenrolam ao longo de uma temporada, a utilização de cliffhangers e a transformação do herói em bandido. A série também explorou temas tabus como por exemplo, relacionar o governo americano com as atividades da máfia; e introduziu um personagem (interpretado pelo então desconhecido Kevin Spacey) que mantinha uma relação sexual com a irmã.

Enquanto que a maioria das séries introduziam heróis que viviam momentos difíceis, forçando-os a tomar atitudes questionáveis, O Homem da Máfia apresentou um herói que precisava, mesmo que a contragosto, se portar como bandido. Em função de seu trabalho, Vinnie passa por uma profunda desconstrução, que o leva a um questionamento moral quando começa a ter dúvidas sobre o que é certo e o que é errado; quem é mocinho, quem é bandido. Esta situação faz com que ele mergulhe em um inferno pessoal, o que só termina quando é assassinado no início da última temporada.

Pouco reconhecida pela mídia, a série foi (quase) esquecida, mas seu valor para a história da TV permanece.

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Texto originalmente publicado em 2011 no blog Nova Temporada da VEJA.com, onde fui colunista entre 2010 e 2016. 

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